segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


     COISAS NECESSÁRIAS






Lembro-me de um romance que li, há dez anos, de Stephen King intitulado “Trocas Macabras”, apesar do nome o livro contem uma trama interessante: Leland Gaunt chega à Castle Rock – cidade fictícia criada pelo autor – e  instala lá uma loja com o nome: “COISAS NECESSÁRIAS”. Cidade pequena, tudo que chega é uma curiosidade enorme. Os moradores demonstravam-se cada vez mais curiosos para desvendar os mistérios daquela loja. Era uma espécie de antiquário. A loja é aberta, as pessoas entram e descobrem objetos que remetem a sentimentos há muito vividos por cada um. Uma das personagens descobre um pedaço de madeira da Arca de Noé. Chega a sentir o cheiro dos animais, o balanço das águas e odor dos estrumes. Outra acha uma foto de Elvis Presley e assim que a adquiri, o astro aparece para ela e... imaginem já o que acontece. Um garoto entra e acha uma raríssima figurinha de um jogador de basebol antigo. Detalhe: autografado para ele. Outro quando está indo para o serviço, observa uma vara de pescar igual a época em que pescava com o pai. Foi uma das melhores recordações que eu me lembro de ter lido. Momento esses que todos aspiram retornar. Porém, eles nunca tinham o valor suficiente para pagar às relíquias. O desespero era tanto que fariam qualquer coisa. Aí é que entra a jogada; Leland Gaunt dizia: “Tudo bem, você me dá o que tem aí e me faça mais um favorzinho...” Assim um a um acabam sem saber vendendo a alma ao demônio – uma espécie de Fausto moderno. No final, a celeuma é tanta que o povo volta lá e ele distribui uma arma para cada um e a guerra está formada...
Agora, trazendo o enredo para a atualidade, o que é mesmo necessário para nossa vida? Outrora quem possuísse carro e telefone, era bem financeiramente. Assim como o vídeo cassete. A indústria fonográfica jamais imaginaria que um simples CD a destronaria. O toca fitas era uma sensação para quem tinha Walkman. Nos cursos de computação o disco era enorme – quase do tamanho de meia folha de caderno. Depois vieram os disquetes. As fitas VHS eram mais esperadas que os livros de Harry Potter. Aos poucos a evolução vem acontecendo. Porém, há dois lados aí. Uma é o crescente descaso com o planeta. Estão tentando reverter à situação – um pouco tarde, é claro, mas não será uma das tarefas fáceis. Uma das maiores  invenções foi a Internet. Através dela o mundo descortinou-se de uma forma incrível e maravilhosa. Quantos amigos de lugares longes não foram feitos? Do outro lado do mundo... Infelizmente o tempo encurtou. As horas diminuíram. O trabalho aumentou. A vida vai passando.
Lembro-me que um amigo de infância dissera sobre nosso futuro: Nossas esposas amigas conversando os amigos do outro lado e os filhos interagindo para a nova geração. Quem dera meu amigo, quem dera. Todos têm suas ocupações, seus problemas pessoais, suas vidas... os outros são os outros. Assim, vamos vendendo a alma as Preocupações e Ansiedades da vida. O interessante nessa história era que as pessoas adquiriam os objetos devido a recordação trazida a tona. Com isso, Leland Gaunt brinca com o povo.
Ah como gostaria de vivenciar as tardes que passava com meus amigos de infância assistindo sessão da tarde com pipoca. Jogando vídeo-game comendo pizza. Indo ao shopping pegando um cinema...
Sim o tempo passa, os amigos vão-se, outros aparecem, alguns permanecem outros ficarão.




É parar por um momento e ver nosso caminho andado, aonde chegamos, o que fizemos, o que pretendemos ainda, o que vamos deixar para aqueles que vierem após nós. As coisas necessárias mesmo são: o AMOR, AMIZADE, FAZER ALGUÉM FELIZ, SER FELIZ, VIVER DA MELHOR, ACONSELHAR, OUVIR E CONVERSAR, ESCREVER, SONHAR, REALIZAR, AFASTAR-SE DO MAL, ERRAR PARA APRENDER, e outras COISAS vêm depois como conseqüência da conduta vivida. A quem vamos vender as nossas almas? A casa? Carro? Objetos? Há uma passagem interessante na Bíblia em Jô quando ele perde tudo diz: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu retornarei ao pó.” Paulo também diz algo parecido. Por isso o mundo está em crise: falta amor, respeito, compaixão, solidariedade. Mas, quando todos pararem um minuto sequer de se preocupara consigo próprio e vê o próximo ao seu lado precisando de ajuda, nesse dia haverá salvação.

12-17/01/09